sábado, 6 de outubro de 2012

OBSERVANDO A GALÁXIA DE ANDRÓMEDA

Agora que a brilhante Lua deixou os céus noturnos, é boa altura para virar a nossa atenção para um dos mais espetaculares objetos do céu, passando diretamente sobre as nossas cabeças nestes dias por volta das 20 horas. Este objecto era conhecido como "pequena nuvem" pelo astrônomo persa Abd-al-Rahman Al-Sufi, que a descreveu e ilustrou no seu Livro de Estrelas Fixas no ano 964. Mas para os astrônomos persas em Isfahan podia ter sido conhecida já em 905, ou até mais cedo. Um perito em nomenclatura estelar, Richard Hinckley Allen, também disse uma vez que apareceu num mapa estelar holandês datado do ano 1500. Para observar esta "pequena nuvem" é necessário uma boa visão e uma noite escura e limpa, sem luzes da rua, de casa, ou da cidade para interferir. À vista desarmada parece nada mais que um brilho misterioso e indefinido: um borrão difuso e elongado, talvez com duas ou três vezes o tamanho aparente da Lua. Para a encontrar, localize o Grande Quadrado de Pégaso. A seguir, foque os seus binóculos na brilhante estrela Alpheratz, que se encontra no canto superior esquerdo do Quadrado. Siga para Este (esquerda) até à estrela Mirach em Andrômeda no seu campo de visão. Depois, para cima até uma estrela razoavelmente brilhante acima de Mirach e siga subindo na mesma direção até que encontra a "pequena nuvem". Este é o nosso alvo. Hoje conhecemo-la simplesmente como a grande Galáxia de Andrômeda. O rival de Galileu, Simon Marius, detém normalmente o crédito como o primeiro a observar telescopicamente este objecto em Dezembro de 1612. Descreveu a nebulosa tendo um brilho indefinido, "como uma vela brilhando pela janela de uma lanterna."
magem amadora de M31, registada com uma câmara CCD através de um telescópio. Crédito: Ed Carlos Mesmo hoje, os binóculos e telescópios revelam esta "nuvem" como pouco mais que algo enevoado e oval, que gradualmente aumenta de brilho para o centro até um núcleo tipo-estrela. Embora certamente pareça maior e mais brilhante do que a apenas olho nu, não há muito para sugerir a grandiosidade deste objecto, pois é bem melhor observada em astrofotografias de longa exposição. É oval porque da nossa perspectiva, estamos a observá-la não muito longe do seu perfil, mas de facto, é um conjunto estelar espiral, quase circular. A luz desta "pequena nuvem" é na realidade a acumulação total de luz de mais de 400 mil milhões de estrelas. Também é apelidada de Messier ("M") 31, no famoso catálogo de Charles Messier: objectos difusos que se parecem com cometas, mas que mais tarde se vieram a revelar como galáxias, nebulosas e enxames estelares. Este é o objecto mais distante observável à vista desarmada. Estima-se que M31 tenha quase 200.000 anos-luz de diâmetro ou uma vez e meia o tamanho da nossa Via Láctea. O seu núcleo brilhante é a nuvem difusa visível a olho nu. Tal como a nossa Galáxia, M31 tem algumas galáxias satélites. Duas destas: M32 e M110 podem ser observadas com baixa ampliação num telescópio pequeno ou médio, no mesmo campo que M31. Existem ainda outras duas companheiras (NGC 147 e 185) que são bastante mais ténues e mais afastadas, perto da fronteira com a vizinha Cassiopeia.
A Galáxia de Andrómeda no seu melhor. Crédito: Robert Gendler À medida que observar esta noite a Galáxia de Andrômeda, estará a fazer algo que ninguém no mundo, à excepção de um observador dos céus, consegue fazer: estará na realidade a olhar para o passado. Existe uma muito boa razão para este borrão de luz aparecer tão ténue à vista desarmada. Quando o observar esta noite, considere que esta luz viajou durante aproximadamente 2,5 milhões de anos para chegar até si, viajando sempre à tremenda velocidade de 1080 milhões de quilômetros por hora. A luz que observa tem cerca de 25.000 séculos de idade e começou a sua viagem por volta da mesma altura do nascimento do Homem. Esta luz é pelo menos 480 vezes mais velha que as Pirâmides; a distância que já percorreu é tão inconcebível que só o facto de tentar escrever o número em quilômetros é completamente insignificante. Quando começou a sua viagem de quase 24 exaquilômetros (24, seguido de dezoito zeros!) na direção da Terra, os mastodontes e os tigres-dente-de-sabre vagueavam pelo continente americano antes da Idade do Gelo e o homem pré-histórico lutava pela sua existência no que é agora a Garganta de Olduvai a norte da Tanzânia, na planície do Serengeti oriental. Durante muito tempo, M31 foi popularmente referida como a "Nebulosa" de Andrômeda. Mas embora os grandes telescópios refletores como o de 72 polegadas Lord Rosse no Castelo de Birr na Irlanda estivessem em operação já durante meados do século XIX, só em 1923 é que Edwin P. Hubble finalmente observou estrelas individuais em M31 com o seu telescópio de 100 polegadas do Observatório do Monte Wilson. Mesmo assim, muitas décadas antes já havia quem suspeitasse que M31 era mais que uma nuvem luminosa. Leia este comentário profético de W.H. Smyth, no seu livro "A Cycle of Celestial Objects", escrito em 1844: "Sir John Herschel... conclui que é um anel liso, de enormes dimensões, visto muito obliquamente. Consiste, provavelmente, de miríades de sistemas solares a uma espantosa distância de nós, e carrega com ela uma lição: a que não devemos limitar as fronteiras do Universo aos limites dos nossos sentidos."

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